Uma presença na Taça UEFA ou as duas finais perdidas no Campeonato de Portugal foram os feitos mais signficativos do clube da margem sul do Tejo; Quarta-feira, restam as lembranças e alimentam-se sonhos
O BARREIRENSE festeja quarta-feira 90 anos de existência. Aproxima-se do centenário um clube que mudou a vida das gentes na margem sul e abriu, pouco a pouco, um caminho de glória que tornou o futebol numa das imagens mais fortes do Barreiro.
Durante muitos anos, o Barreirense andou entre os "grandes". Tornou-se uma escola, de onde nasciam grandes jogadores, muitos deles com destino ao Benfica. O decorrer dos anos, as alterações sociais e económicas por que o País passou mudaram o estatuto do clube, cuja equipa de futebol foi descendo até disputar, actualmente, a II Divisão B.
Lembranças de 70
A época de 69/70 é a mais brillhante do Barreirense na I Divisão. A equipa conquistou o quarto lugar, que lhe permitiu disputar pela única vez a Taça das Cidades com Feira, anterior designação da Taça UEFA, frente ao D. Zagreb. Na primeira mão, disputada no Estádio D. Manuel de Melo, venceu por 2-0, mas este resultado não lhe permitiu continuar em prova, uma vez que em Zagreb foi goleado por 6-1.
Nos anos 50 e 60, a equipa da margem sul do Tejo participava assiduamente no principal escalão do futebol português, onde totaliza 23 presenças, com a particularidade de alternar com participações na II Divisão, regressando, por vezes, com o título nacional, conquistado por cinco ocasiões. Um quinto lugar, um sexto e um sétimo são outras posições de prestígio obtidas na I Divisão.
Mas é preciso recuar ainda mais no tempo para encontrarmos as prestações mais significativas do Barreirense no futebol português: em 29/30 e 33/34, foi finalista vencido no Campeonato de Portugal, competição antecessora da I Divisão, disputada num modelo semelhante à Taça de Portugal, perdendo então, respectivamente, frente ao Benfica (1-3) e ao Sporting (3-4). Momentos que hoje se lembram com nostalgia.
Vinte anos na sombra
Desde a época de 78/79 que o Barreirense não disputa o escalão principal do futebol português. Actualmente, a equipa de futebol participa na Zona Sul da II Divisão B - que corresponde ao terceiro escalão na hierarquia do nosso futebol - e ainda sonha regressar à II Liga - onde competiu durante uma época -, embora esteja a dez pontos do Portimonense.
A verdade é que, ano após ano, os barreirenses encaram a nova época desportiva com a esperança de subir de divisão. Os tempos áureos não estão assim tão distantes, e nunca foi esquecido o desejo de, mesmo que a I Liga esteja muito longe, integrar uma II Liga, que já tem estatuto profissional e pode levar a equipa do Barreiro a reeditar confrontos que lembram esses tempos entre os "grandes" do futebol português.
Para esta época, mais uma vez, a aspiração era subir à II Liga. Porém, o campeonato não começou bem e os resultados não corresponderam aos anseios de dirigentes e adeptos. José Rachão, o treinador que nos últimos anos mais tempo esteve na orientação da equipa, não resistiu a esses resultados e acabou por sair.
Para o lugar de Rachão entrou Pietra, mas nem assim a situação melhorou. O Barreirense não recuperou terreno, e Pietra saiu também, sendo substituído por Rui Gorriz, treinador que levou a equipa a uma recuperação notável. A nove jornadas do final, o Barreirense é 5º classificado, a 10 pontos do líder.
Ginásio e estádio alimentam a fé
Criado a 11 de Abril de 1911, o Futebol Clube Barreirense ganhou esta denominação após reestruturação do Sport Barreirense, que enfrentou dificuldades financeiras.
A construção do ginásio-sede é um dos motivos de maior orgulho entre a massa associativa do clube, não só pelas suas dimensões, mas também pela solidariedade que o envolveu, com trabalho gratuito de muita gente, destacando-se o empenho de António Balseiro Fragata, líder da Comissão Pró-Ginásio. Talvez por isso a obra tivesse custado dois mil contos, cerca de metade do que constava no orçamento. Desde a criação da ideia, à sua inaguração, em Maio de 56, passou mais de dezena e meia de anos.
No que se refere a infra-estruturas, destaca-se também o Estádio D. Manuel de Melo. Este campo tinha como nome Campo do Rossio, que há mais de setenta anos começou por ser alugado ao Barreirense. Mais tarde foi remodelado, passou a ter mais bancadas e camarotes, e foi arrelvado.
Curiosamente, a actual designação deste recinto advém do apoio dado por Manuel de Melo, na altura "patrão" da Companhia União Fabril (CUF), que criou um clube de futebol, rival do Barreirense, também com bastante prestígio.
Antigos jogadores
MANUEL LOPES
O Barreirense é um clube com 90 anos de história, ao serviço da cidade e da população. Mas, apesar disso, é um clube jovem, com aspirações para o futuro. A cidade gosta de futebol, de bons espectáculos, e merece ter uma equipa na I Liga. O nosso projecto é cauteloso, pois não dispomos dos meios financeiros desejados, mas temos outras condições, para tentar colocar, a médio prazo, a equipa de futebol no lugar que merece. O Barreirense é dos históricos do futebol português e faz falta na I Liga.
JOSÉ AUGUSTO
"Fico sempre muito sensibilizado com o Barreirense, que é um dos gloriosos do futebol português, pois escreveu uma página bastante importante, além de ser um dos clubes que mais jogadores forneceu às selecções nacionais e às equipas 'grandes'. Aproveito para revelar que vou oferecer uma fotografia da equipa-maravilha do Barreirense (1928 a 1935), que ganhou o Campeonato de Portugal."
CHALANA
"O Barreirense é um clube que me marcou bastante. O meu desejo é que, a curto prazo, regresse à I Liga, pois é uma colectividade com enorme historial e grandes responsabilidades no futebol português."
NENO
"A cidade deveria apoiar mais o Barreirense, porque é um clube histórico, um dos poucos com mística, que marcou quase todos os jogadores que por lá passaram. Antigamente, funcionava como o trampolim para ingressar em outras equipas. Sempre que posso, desloco-me ao Barreiro, onde fui praticamente criado."
In "Record Online"
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