A simpatia e a simplicidade são as mesmas de quando era campeão, mas nota-se que a comunicação de Mike é agora diferente. Não por força da doença que o levou a ficar semanas a fio na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital do Barreiro mas, antes, pelas "coisas da vida", como ele repetiu várias vezes. "Eu sou o que sou", diz Mike Plowden, uma antiga glória de basquetebol do Barreirense e do Benfica nos anos 80 e 90, e que hoje, aos 43 anos, ganha a vida ensinando à miudagem do concelho os princípios de como se lança ao cesto.
Com o rosto marcado pela dureza da vida e sem ter qualquer complexo em afirmar que já passou e continua a passar "por problemas financeiros", Mike Plowden sente, contudo, alguma vaidade por ainda estar vivo e ser reconhecido pelas gentes do Barreiro.
Virose
Tudo se complicou para Mike desde que saiu do Benfica em 1994. Ingressou no Atlético, as coisas ainda correram mais ou menos no primeiro ano, mas o projecto para a segunda temporada não vingou e tudo ainda rola nos tribunais. Seguiu-se uma breve passagem pelo Barreirense e, por último, o Juventude de Évora, clube onde já desempenhava as funções de jogador-treinador. Despediu-se com uma derrota e ia despedindo-se da vida no seu último jogo oficial, sem saber bem das razões.
Indisposição, mal-estar, fraqueza, falta de apetite. Tudo aconteceu muito rapidamente e Mike teve de ser internado de urgência no Hospital do Barreiro. Os primeiros exames nada confirmaram e o estado de saúde ia piorando. Chegou-se à conclusão que tinha uma virose com vários coágulos espalhados pelo corpo, um dos quais muito perto do coração que funcionava a dez por cento e, por isso, ninguém assumia os riscos de o querer operar com o coração em tal estado. "Se os coágulos fossem para as pernas podia correr o risco de ser amputado e se fosse para a cabeça poderia ser o final disto tudo."
As palavras de Mike são frias e há um dia em que os médicos pedem para a família vir dos Estados Unidos. A mulher de Mike insistiu na operação quando o ex-jogador pediu ajuda às enfermeiras para respirar. "Lembro-me de ver a cara do médico e de ele olhar para mim. Foi uma terça-feira à noite e entendi tudo naquele instante."
Quando foi feita a endoscopia, Mike já não tinha o tal coágulo perto do coração. "Cheguei a ver a morte nesse dia". Mas passado um ano, os mesmos sintomas apareceram, Mike foi de novo internado, ficou mais três semanas na UCI do Hospital do Barreiro. "Havia uma bactéria alojada no meu corpo que ainda ninguém sabe o nome." Foi novamente reabilitado e há um ano uma pneumonia atirou-o de novo para o hospital. Hoje vive uma outra vida nos pavilhões do Barreiro.
A homenagem que ainda falta fazer
Várias foram as pessoas que já sugeriram uma festa de homenagem a Mike Plowden. Mas o antigo jogador diz que não é ele que vai ter essa iniciativa. "As pessoas sabem quem eu sou, o que fiz no basquetebol e na selecção nacional. Eu conheço as pessoas do basquetebol e não tenho problemas em ser como sou. Mas nunca hei-de pedir esmolas. O critério para fazer a festa não é meu."
Jogo atrasado com palmas para Plowden
Boas recordações tem Mike de quando mudou de camisola. "No primeio jogo que fiz pelo Benfica no Barreiro, o encontro começou mais tarde, tantas eram as pessoas a bater palmas para voltarem a ver o Mike. E quando deixei o Benfica e fui jogar para o Atlético no primeiro jogo na Luz aconteceu quase o mesmo. Sempre fui um atleta que pensou sempre na equipa."
Banho de gelo para baixar a temperatura
Mike tem duas histórias para contar enquanto esteve no hospital. "Os médicos deram-me banho de gelo para baixar a minha temperatura, que há mais de uma semana andava nos 40 graus". A outra foi quando a médica lhe prometeu um cozido à portuguesa se não tivesse o coágulo. "Fiquei outro. E nesse dia comi qualquer coisa do cozido. Antes não me lembro de quase nada."
Perfil
Apesar de ter nascido nos EUA, Mike Plowden foi uma das maiores referências do basquetebol português das décadas de 80 e 90. Representou sucessivamente o Barreirense, Benfica e Atlético e, após ter garantido a naturalização, passou a envergar a camisola da selecção nacional, tinha então 29 anos. Mike era uma pessoa extremamente afável, um modelo para os mais jovens e um personagem muito popular junto dos adeptos. Como basquetebolista, distinguia-se pelas suas qualidades de grande defensor e ressaltador. Foi um magnífico "power forward".
In "Record Online"
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