Há dias, momentos, em que o inatingível se torna real. Espaços de tempo em que tudo aquilo que achámos impossível, tudo aquilo que considerámos inviável, é alcançado. Não precisa de ser o desenvolvimento do avião, a ida à Lua ou a invenção da internet. São coisas mais mundanas, mais terrestres, mais verdadeiras — mas estratosféricas para quem chega lá. Para Neemias Queta, esse dia, o momento em que o inatingível se tornou real, o impossível foi conquistado, o inviável foi alcançado, foi esta sexta-feira: quando se tornou o primeiro português a entrar na NBA.
Depois de três anos nos Utah State Aggies, uma equipa da NCAA, a liga universitária de basquetebol dos Estados Unidos, o poste de 22 anos foi a escolha 39 no draft da NBA — já na segunda ronda mas bem acima da média das previsões — e foi eleito pelos Sacramento Kings, a equipa onde, segundo o próprio, o treino pré-draft lhe tinha corrido melhor. Nascido em Lisboa, filho de pais guineenses, Neemias Queta fez a formação entre o Barreirense e o Benfica antes de se mudar para os Estados Unidos em 2018. Três anos depois, deu o salto mais aguardado pelos basquetebolistas do mundo inteiro e fez história no basquetebol português.
With the 39th pick of the NBA Draft, the @SacramentoKings select Neemias Queta!
2021 #NBADraft presented by State Farm
— NBA Draft (@NBADraft) July 30, 2021
Em Brooklyn, Nova Iorque, no Barclays Center, o jogador português foi um dos 60 que foram escolhidos pelas 30 equipas da NBA ao longo de duas rondas e depois de uma semana em que treinou com os campeões Milwaukee Bucks, os Phoenix Suns, os New York Knicks, os Toronto Raptors, os Sacramento Kings, os Philadelphia 76ers, os Charlotte Hornets, os LA Lakers e os Oklahoma City Thunder. Numa cerimónia ainda muito afetada pela pandemia, o evento não contou com a presença de todos os jogadores elegíveis, sendo que apenas 20 atletas convidados estiveram mesmo no draft, com os restantes a assistirem a tudo à distância — foi o caso de Neemias Queta, que esteve nas instalações da agência que o representa, na Califórnia, vestido a rigor com um fato desenhado pelo alfaiate Paulo Battista. Cade Cunningham, base que estava nos Oklahoma State Cowboys, cumpriu o favoritismo e foi a primeira escolha de 2021, sendo agora jogador dos Detroit Pistons.
“Estou muito contente. Foi lindo. Esperava por este dia há muito tempo e finalmente chegou o dia. Quando estive lá [em Sacramento] senti que foi um bom treino, que foi um dos melhores. E o feedback que recebi deu-me a entender que precisavam de um jogador com as minhas características. A partir daí, era só esperar e ver se era escolhido. Acho que posso ter minutos. É uma boa equipa, uma equipa jovem, precisavam de defesas e acho que consigo melhorar a equipa com a minha entrada. Já me vejo a jogar, claro, mas ainda é cedo e tenho de preocupar-me com o dia de amanhã e fazer uma boa pré-época”, disse Neemias Queta à Sport TV, minutos depois de saber que vai entrar na NBA, revelando depois que mandou bordar as iniciais da avó, da mãe e do pai, para além do código postal do Vale da Amoreira, o bairro onde cresceu, na camisa preta que usou ao longo do draft.
O percurso começou ainda em 2019. Na altura, em abril e depois de apenas uma temporada a jogar nos Estados Unidos, Neemias Queta declarou-se elegível para o draft seguinte. A aposta, porém, não foi até ao fim: o jogador português acabou por voltar atrás, retirar-se da lista e decidir passar mais tempo nos Utah State Aggies, a amadurecer, a crescer e a tornar-se melhor. Em março deste ano, já com mais certezas e uma bagagem diferenciada, voltou a colocar o próprio nome na lista dos jovens jogadores que pretendem saltar para uma equipa da NBA.
O poste, que em 2019 ganhou a Divisão B do Europeu Sub-20 com seleção nacional, foi um dos quatro finalistas ao troféu de Melhor Defensor da NCAA a par de Herbert Jones (Alabama), Davion Mitchell (Baylor) e Evan Mobley (USC). Em paralelo, o jogador que caiu na primeira ronda do March Madness terminou a temporada com médias de 14,9 pontos, 10,1 ressaltos, 3,3 desarmes, 2,9 assistências e 1,1 roubos de bola por jogo, números poucas vezes vistos na NCAA e aos quais se juntaram mais dois recordes: mais desarmes na NCAA (97) e mais desarmes num jogo (nove). Queta recebeu várias distinções na Conferência de Mountain West, tendo sido observado por algumas equipas da NBA ao longo da temporada.
Fonte: observador.pt
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