A formação é uma aposta do Futebol Clube Barreirense, quer no futebol,
quer no basquetebol. Ao clube, que assinala a 11 de Abril os seus 96
anos de existência, deixam saudades êxitos como o de campeão nacional na
modalidade de basquetebol, nos anos 50, e a presença na primeira divisão
de futebol, mas hoje, ao desporto profissional, falta, de acordo com o
presidente do FC Barreirense, Manuel Lopes, “suporte económico”. O
presidente alvi-rubro explica as alternativas encontradas face à perca
de receitas dos últimos anos, nomeadamente, através da venda de património.
O clube “tem sofrido reduções nas suas receitas”, conta o presidente da
Direcção do FC Barreirense. “Cerca de 40 a 50 por cento das nossas
receitas eram oriundas da sala de bingo, no ano passado, não só perdemos
a receita na totalidade, como a sala teve um prejuízo na ordem dos 100
mil euros”, contabiliza um resultado negativo que, assume, “também teve
origem no facto de termos dispensado metade dos funcionários e, porque
alguns trabalhavam há mais de dez anos na sala, este processo deu origem
a indemnizações significativas”.
A decisão, que remonta a Setembro do ano passado, veio pôr termo a uma
agonia financeira que contrariou as receitas positivas dos primeiros
anos de funcionamento da sala.
Uma passagem pela Liga de Honra entusiasmou adeptos, sócios e mesmo
dirigentes, mas os custos também bateram à porta. “Para participar,
mesmo com os orçamentos mínimos, tivemos que subir as despesas, para
cumprir os requisitos de todos os jogadores serem profissionais, todos
os jogadores terem, no mínimo, três salários mínimos mensais e outras
exigências que há para participar nessa prova”, lembra. O investimento,
pesado para o clube, mas magro em termos do quadro das equipas inscritas
na prova, “acabou por ter reflexos nos resultados desportivos, o
Barreirense subiu de divisão e desceu de imediato, na mediada em que não
tinha capacidade financeira para competir com outros clubes”.
À frente do clube alvi-rubro, Manuel Lopes assume que, esta época
desportiva, a direcção teve que “reduzir substancialmente o orçamento,
praticamente fomos obrigados a reformular totalmente a equipa de
futebol, ficaram três jogadores do ano passado”. A caminho de uma nova
época desportiva, que pode mesmo ficar marcada pela descida da equipa
sénior à 3ª Divisão Nacional, apesar do clube ainda acreditar na
manutenção, Manuel Lopes sublinha que “o equilíbrio mensal é
indispensável” e impera a tomada de decisões “sob pena de, se não forem
tomadas [essas decisões], no médio prazo, poder estar comprometido o
próprio clube”. Ainda que numa situação difícil, este histórico da
cidade não quer chegar a uma situação dramática.
*A necessária sustentabilidade*
“O Barreirense ultrapassou a situação desta quebra de receitas com a
venda de património mas, praticamente, há quatro ou cinco anos que
sobrevive à custa dessa receita, o que é uma situação insustentável”,
sublinha o presidente. “O Barreirense tinha e tem um património
substancial, aquilo que pretendemos com este património é criar novas
infra-estruturas com óptimas condições de trabalho”, prossegue,
salvaguardando que, criadas essas condições, será possível fazer uma
melhor formação que proporcione, também, “melhores atletas nas equipas
seniores”.
Mais, o presidente alvi-rubro quer que, “uma parte significativa da
venda desse património possa constituir um factor de sustentabilidade
para o clube”. O responsável fala da necessária sustentabilidade para o
trabalho de formação que, actualmente, atrai ao clube 600 a 700 jovens,
que ali praticam desporto.
Da venda do D. Manuel de Mello, sublinha, “temos só uma terça parte
recebida, há uma parte que será recebida em património construído,
aquela que terá que ser, depois, um factor de sustentabilidade e de
receita no dia-a-dia, para que o clube possa, com origem nessas
receitas, [assim como hoje tem algumas, ao nível de rendas] suportar as
suas actividades”.
*Ponte suspende solução no Lavradio*
Perante uma massa crítica de cerca de 4500 associados e contando com o
trabalho voluntário de muitos directores que ali dedicam o seu tempo
livre, os dias deste Barreirense são hoje, como seria de esperar,
diferentes de há quase cem anos atrás.
No sentido de encontrar uma alternativa ao D. Manuel de Mello, para a
Verderena, onde joga actualmente a formação, há um projecto para o novo
campo de jogos, mas a hipótese de retirar dali a formação não agradou
aos responsáveis do clube. “Ao fazermos o campo de jogos, ficamos sem
espaço para a formação e a nossa perspectiva é a de que a Verderena
seria um espaço mais adequado à formação, pela sua proximidade, porque
estamos a falar de uma população mais jovem, que tem sempre mais
dificuldade em deslocar-se a outros espaços que não sejam tão centrais”,
justifica Manuel Lopes.
Outras soluções mais periféricas foram equacionadas, nomeadamente em
Santo António da Charneca, mas uma das hipóteses conheceu o parecer
negativo da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa
e Vale do Tejo (CCDR-LVT). “São situações processuais e decorrentes da
classificação dos espaços em termos de uso no Plano Director Municipal”,
justifica o responsável, ciente das dificuldades inerentes a esta
procura de terrenos no concelho.
“Perante as dificuldades em encontrar outro espaço, tivemos que repensar
a situação e manter o campo de jogos na Verderena”, assume. A tentativa
passou então por encontrar uma solução para a formação noutro local, a
autarquia mostrou-se disponível para a cedência de um terreno no
Lavradio, junto ao /Salispark/ (loteamento da Quimiparque), mas,
“solicitando um parecer à CCDR, verificou-se que há um corredor de
reserva de espaço para a entrada da ponte [terceira travessia] e aquele
espaço, embora não esteja na zona central, onde, muito provavelmente,
irá entrar a ponte, está nesse corredor”. Manuel Lopes explica que,
“enquanto não houver definição ao nível de projectos de ocupação do
local exacto onde vai passar a ponte, esse terreno ficará condicionado”.
Ainda com a perspectiva de que, dentro de três a quatro anos, “o espaço
estará disponível para um campo para a formação”, por enquanto, o
Barreirense não pode contar com aquela solução.
*Alto da Paiva em cima da mesa*
A Verderena é o terreno possível, onde o Barreirense conta, assim,
erguer o seu campo de jogos “com relva sintética, que vai permitir a
todas as equipas de futebol 11 jogarem nesse campo”. Mais, revela,
“estamos em conversações com a Câmara Municipal para a cedência de outro
espaço que é propriedade da Câmara, para podermos manter em actividade
os infantis e as escolinhas, portanto, um espaço de futebol 7, mais
pequeno”, que aponta, muito provavelmente, para o Alto da Paiva. “Numa
primeira fase, na Verderena, fica também espaço para um pavilhão
desportivo que, em princípio, não será construído de imediato”, mas que
poderá responder, mais tarde, às necessidades da formação da modalidade
de basquetebol.
A equipa sénior de futebol deverá começar a próxima época no Complexo
Desportivo do Grupo Desportivo Fabril, no âmbito de um acordo já
alcançado entre as direcções dos dois clubes. “O processo de aprovação
dos projectos do D. Manuel de Mello está a decorrer e tudo aponta para
que, nessa altura, esteja tudo resolvido”, antevê.
Para o avanço das obras na Verderena, prossegue, “os processos também
estão a decorrer na Câmara, são processos, infelizmente, muito mais
morosos do que aquilo que nós gostávamos”. Mesmo assim, está confiante,
“tem havido um empenho por parte da autarquia no sentido de agilizar o
processo”. “A situação, neste momento, poderá apontar para que, em
Agosto ou Setembro, seja possível iniciar as obras na Verderena”,
avalia, salvaguardando que esta é uma data sempre difícil de prever.
Entretanto, o clube salvaguarda da prática desportiva do futebol 11
pelas camadas jovens, enquanto decorrer essa intervenção. “Temos tido
conversações, já há algum tempo, com o Santoantoniense FC”, revela
Manuel Lopes, apontando esta solução provisória por um período de tempo
que poderá corresponder a uma época desportiva.
*A manutenção do basquetebol profissional*
Questionado sobre a manutenção da equipa de basquetebol na Liga
Profissional, Manuel Lopes não hesita em apontar este como um objectivo
do clube. Ainda assim, estando as épocas desportivas a terminar e de
olhos postos no “desequilíbrio financeiro que existe entre receita
corrente e despesa corrente”, pois, neste momento, sublinha Manuel
Lopes, "as receitas não cobrem metade das despesas”, há que dar
conhecimento dessa dura realidade aos sócios. “Vamos ter que dar
conhecimento disto, também, aos sócios, para que tenhamos a percepção de
qual é que é o seu sentimento, será sempre doloroso ter que,
eventualmente, desistir, ou participar noutra prova de escalão inferior,
ou ter que ponderar terminar com algumas equipas, mas temos que olhar
para o nosso futuro”.
In "Voz Desportiva" - Milene Aguilar




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