ESCREVEM OS LEITORES
Assim que se consumou o regresso aos nacionais, em junho do ano transato, que se adivinhava um 2012/13 muito complicado para o Barreirense.
Em primeiro lugar, o panorama do futebol português. A 3.ª Divisão iria conhecer a sua última temporada, e portanto, o risco era total: em cada série, duas equipas sobem à II, dez descem aos distritais. E se ao olhar apenas para o plano desportivo se pudesse falar de uma situação em que nada há a perder, no plano financeiro as coisas funcionam de forma diferentes.
Não abdicar de participar na III Divisão implica mais gastos em deslocações e um orçamento mais alto, de forma a acompanhar as exigências competitivas do escalão. Vasco da Gama de Sines e Campomaiorense, só para citar dois exemplos, preferiram continuar nas competições dos seus distritos.
O cenário até nem era muito diferente, salvo as devidas proporções, que aquele que o emblema do Barreiro viveu em 2004/05. Nessa época, os então comandados por Daúto Faquirá ascenderam à Liga de Honra, e participaram na edição da prova em que foram despromovidas seis equipas, quando os campeonatos profissionais reduziram o número de formações de dezoito para dezasseis. Esse handicaprevelou-se fatal para o clube da Margem Sul, que nos anos seguintes colecionou descidas de divisão e só parou nos distritais. A sensação de deja-vu não se fica apenas por estes dados, pois o técnico da mais recente promoção também é negro (Duka), e não existem assim tantos no futebol nacional.
Mas retomemos à coragem do Barreirense 2012/13. Apesar de o nível competitivo ser superior, a aposta na equipa que conseguiu a subida foi firme, tanto que à exceção do lateral-esquerdo Marcelino, os habituais titulares mantiveram-se no plantel. Os próprios reforços foram contratados de uma forma assertiva, entre alguns antigos atletas do clube como Monzelo, Vasco Campos e Diéb, e vários jogadores que se destacaram nos distritais, como David Pinto (ex-Cova da Piedade) e Lampreia (ex-Alfarim). E tal como muitos clubes, os alvi-rubros também não são saudáveis financeiramente, tendo mesmo terminado com o basquetebol profissional, uma modalidade em que têm uma história bonita.
As condições também não eram as melhores. O Campo da Verderena para além de não ter os seus balneários concluídos, durante parte da época também não teve luz artificial. Ou seja, durante a presente temporada os camarros nunca jogaram no seu terreno na condição de visitados. Paio Pires, Vale da Amoreira, Quinta do Anjo, Pinhal Novo e Rosário (Moita) foram as casas que acolheram o Barreirense. Ainda assim, o número de adeptos presentes superou praticamente sempre o razoável, uma realidade que se estendia nas partidas realizadas fora de portas.
Mas, o mais caricato foi que devido à falta de luz artificial, no início da época o plantel teve de treinar no campo da sua academia, que a título de curiosidade, é um campo de futebol 7.
Até com os equipamentos houve problemas. A versão que corre na Internet é a de que na festa de subida de divisão, estes teriam desaparecido. A consequência desta situação foi a equipa ter atuado com um jersey ao qual muitos populares apelidaram de pijama, dada a sua estética.
Até com o plantel houve sobressaltos. O elevado número de lesões e algumas saídas obrigaram Duka a recorrer a soluções de risco, mas que no fundo, eram as possíveis. Na baliza, o habitual suplente Carlos Soares tentou melhor sorte no Pinhalnovense, e quando o titular José Carlos se lesionou, foi o ainda júnior Daniel Vital a assumir a “vital” posição de guarda-redes. Na estreia, até defendeu uma grande penalidade, chegou a ser a coqueluche da equipa durante algum tempo, mas quando os erros apareceram, não ficou imune a críticas. O extremo Bailão, a partir de dada altura, passou a ser lateral-esquerdo, e devido a problemas físicos, jogadores influentes como Miguel Gomes, Márcio Diéb ou Vasco Campos foram presenças assíduas… na bancada.
Com tanta atribulação, quem está a ler este texto e desconhecia a situação facilmente consegue prever que o Barreirense pudesse estar neste momento já com a descida de divisão assegurada e que o esforço e o risco não tenham valido a pena. Mas engana-se! Durante a fase regular, o clube da Margem Sul ocupou quase sempre os seis primeiros lugares (que dão acesso ao Play-Off de promoção), garantiu a presença na disputa pela subida divisão e está em 3º lugar, pronto para mais jornadas de muita luta.
Atualmente, está numa série de três vitórias consecutivas, iniciará o Play-Off de promoção a apenas dois pontos do duo de líderes, o Sintrense e o rival Fabril. Os equipamentos já são os tradicionais e as obras nos balneários do Campo da Verderena estão praticamente concluídas. Será esta aventura concluída com um final épico? A resposta chegará em Maio.
In http://www.record.xl.pt/opiniao/leitores/interior.aspx?content_id=809230
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