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A carreira de Chalana confunde-se com a história do Benfica nos últimos 28 anos. Seis títulos de campeão, uma transferência, um regresso, nova saída e novo regresso, como técnico dos juniores, são alguns momentos de um trajecto marcante
QUANDO o benfiquista Ilídio Fulgêncio passou um cheque de 750 contos (cerca de 3741 euros) ao Barreirense para assegurar a contratação de um jovem de 15 anos que também interessava ao Sporting, Fernando Chalana, esse jovem que Coluna e Pavic já tinham "espiado", estava muito longe de pensar que a sua carreira de futebolista iria, de algum modo, confundir-se com os últimos 28 anos de história do Benfica.
Corria em Portugal o ano da "Revolução dos Cravos" e Chalana iniciava aí um trajecto que o levaria a cotar-se como o mais talentoso futebolista da sua geração.
Penalizado por várias e complicadas lesões, manifestamente infeliz na experiência no estrangeiro - a mais cara transferência do futebol francês em 1984, quando o Bordéus pagou 300 mil contos (um milhão e 500 mil euros) ao Benfica de Fernando Martins -, Chalana representou ainda o Belenenses e o Estrela da Amadora. Mas seria no Benfica e na selecção nacional que aquele futebol imprevisto, de "dribles" impossíveis, conheceria a máxima expressão.
O "pequeno genial", como alguém um dia o definiu, trabalhou com treinadores como Mário Wilson, John Mortimore, Lajos Baroti, Sven-Goran Eriksson, sem esquecer Toni ou Jesualdo Ferreira, e esteve em seis dos títulos conquistados pelo Benfica entre 1976 e 1989.
Antes, fora campeão nacional de juvenis (74/75) e de juniores (75/76), títulos aos quais ainda somou quatro Taças de Portugal. O palmarés engloba ainda um campeonato francês pelo Bordéus, em 1984/85, distinções de "Melhor Jogador" (78/79) e a conquista da Supertaça da época 80/81.
Não obstante alguns momentos de relacionamento mais complicado com o Benfica - principalmente no início da década de 90 - e que o levaram a passar pelo Belenenses e pelo Estrela da Amadora, antes de mais uma lesão o obrigar a encerrar a carreira, Chalana sempre esteve ligado ao clube da águia.
A meia dúzia de campeonatos que ajudou a vencer com a camisola dos encarnados acaba por constituir-se como uma espécie de cartão-de-visita, mas é o talento, a "genialidade", que permanecem na memória de todos quantos o viram jogar.
Às lesões e ao tal relacionamento complicado com o Benfica no início da década de 90 - incompatibilizou-se com Eriksson, a quem chegou a chamar de "pior lesão" -, Fernando Chalana juntou ainda problemas de ordem pessoal que também não o ajudaram em momentos importantes da carreira.
Só a meio dos anos 90, através de Manuel Damásio, o clube da águia soube reconhecer a importância da figura do "pequeno genial", chamando-o para trabalhar no departamento de futebol juvenil. Fernando Chalana respondeu com dedicação e com... títulos, como o Nacional de Juniores conquistado em 1999/2000.
Da contratação em 1974 às novas funções de adjunto de 2002 passaram 28 anos. É, pode escrever-se, uma vida. E Chalana vive-a com duas referências - uma bola de futebol, que tão bem soube tratar enquanto jogador e um clube, o Benfica, onde inicia agora uma nova etapa. Mais uma no trajecto do "pequeno genial".
Estreia aos 17 anos
Um dos marcos na carreira de Chalana é, seguramente, o momento em que foi chamado para alinhar pela equipa principal do Benfica. O dia 7 de Março de 1976 fica para a história como a data em que o jogador fez a primeira aparição na equipa principal dos encarnados.
Depois de uma jornada europeia, com o Bayern de Munique, o Benfica recebia o Farense no Estádio da Luz e, rezam as crónicas, a exibição da equipa não foi particularmente brilhante.
As exigências eram outras e nem os 3-0 com que o Benfica "despachou" a equipa algarvia sossegaram os benfiquistas. Ficou, contudo, uma referência.
No início da segunda parte Toni já não regressou dos balneários, estreando-se, então com 17 anos, um jovem chamado Fernando Chalana. Dois anos após a chegada à Luz, Chalana tinha a primeira oportunidade "séria". Pela opção de Mário Wilson, o técnico que apostou naquela estreia.
A selecção nacional
Não obstante os convites que recebeu muito antes da transferência para o Bordéus - aos 16 anos o Cannes surgiu interessado em contratá-lo e um ano depois chegou uma proposta do Lille -, foram as exibições de Chalana durante o Europeu/84, disputado em França, que cimentaram em definitivo o estatuto de fora-de-série.
Numa equipa onde pontuavam elementos como Jordão, Nené, Jaime Pacheco, Carlos Manuel, Bento, João Pinto ou Sousa, Fernando Chalana mostrou aos europeus o repentismo e a imprevisibilidade que o levariam depois a Bordéus.
Pela selecção nacional A, Chalana fez 27 jogos e tem um currículo de vencedor. Participou em 13 triunfos, empatou oito vezes e conheceu a derrota por seis, mas nunca foi um goleador.
A série de Chalana na selecção principal começou em 1976 (ano em que alinhou também pelos juniores e pelas esperanças), a 17 de Novembro. José Maria Pedroto chamou-o para o onze inicial no jogo que Portugal ganhou (1-0, Manuel Fernandes) à Dinamarca. Oito anos depois foi 3º no Campeonato da Europa.
In "Record Online"
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