José Augusto Pinto de Almeida
Posição: Extremo Direito
Data Nascimento: 13/04/37
Naturalidade: Barreiro
Altura/Peso: 178 cm / 72 Kg
Nacionalidade: Portuguesa
ano | clube | j | g | a | v | va |
54/55 | Barreirense I | - | - | - | - | - |
55/56 | Barreirense I | 21 | 9 | - | - | - |
56/57 | Barreirense I | 25 | 13 | - | - | - |
57/58 | Barreirense I | 26 |
12 |
- | - | - |
58/59 | Barreirense I | 26 | 11 | - | - | - |
59/60 |
Benfica I | 26 | 19 | - | - | - |
60/61 | Benfica I | 25 | 24 | - | - | - |
61/62 | Benfica I | 23 | 13 | - | - | - |
62/63 | Benfica I | 24 | 9 | - | - | - |
63/64 | Benfica I | 25 |
10 | - | - | - |
64/65 | Benfica I | 23 | 10 | - | - | - |
65/66 | Benfica I | 24 | 10 | - | - | - |
66/67 | Benfica I | 23 | 9 | - | - | - |
67/68 | Benfica I | 25 | 4 | - | - | - |
68/69 | Benfica I | 24 | 5 | - |
- |
- |
69/70 | Benfica I | 5 | 0 | - | - |
- |
Palmarés
Jogador
Vencedor da Taça dos Campeões Europeus (1961 e 1962)
Campeão nacional da IDivisão (1959/60)
Campeão nacional da IDivisão (1960/61)
Vencedor da Taça de Portugal (1961/62)
Campeão nacional da IDivisão (1962/63)
Campeão nacional da IDivisão e vencedor da Taça (1963/64)
Campeão nacional da IDivisão (1964/65)
Campeão nacional da IDivisão (1966/67)
Campeão nacional da IDivisão (1967/68)
Campeão nacional da IDivisão e vencedor da Taça (1968/69)
45 internacionalizações pela Selecção A, sendo «capitão» em sete delas, apontou 9 golos .
Estreou-se em 7-5-58, em Londres, contra a Inglaterra (1-2) e despediu-se em 11-12-68, em Atenas, contra a Grécia (2-4)
Treinador
Segundo Lugar na Mini copa do Mundo, no Brasil, em 1972
Terceiro lugar no «Europeu», de França, em 1984
Seleccionador nacional entre 1971 e 1974
Ele sabia que o pai fora um homem do futebol-ou antes era um homem do futebol, que se dava de alma e coração ao jogo, molhando a camisola encarnada e branca do Barreirense em cada tarde. Tinha orgulho dele, aos oito anos. Era ele que queria imitar naqueles jogos com a bola feita de trapos, com papel e palha à mistura, nos terrenos vadios do Barreiro. «Meu pai, quando soube que eu despertara para o futebol ficou satisfeito. Nunca me proibiu de jogar à bola. Tinha sempre um sorriso afável, um sorriso de pai que desejaria ver o filho tornar-se um ídolo que, se calhar, ele sentia que já não poderia ser. Minha mãe, claro, como todas as mães, receava sempre uma perna partida. a cabeça rachada, os sapatos esfolados. As vezes ensaiava um ar de censura, tipicamente maternal, mas compreensível. Meu pai, que compreendia bem a força da paixão do futebol, passava-me os dedos pelos cabelos e dizia para a minha mãe: “Não te zangues como pequeno por causado futebol... Quem sabe se não estará nele o seu futuro?!”» Era premonição...
Com 10 anos, José Augusto começou a aparecer no Campo do Barreirense, para se treinar às ordens de Armando Ferreira. Mas, se já amava o futebol, enamorou-se pelo basquetebol. Foi jogando ambos. Aos 17 anos, um director do clube, Rui de Oliveira, lançou-lhe um ultimatum: ou uma coisa ou outra. José Augusto escolheu o futebol. Depressa demonstrou que eram imensos os seus talentos. Uma história de filho de peixe...
Os seus golos, de cabeça ou com qualquer dos pés, os seus dribles, o perigo que cada jogada causava na área adversária, fizeram com que fosse escolhido, por José do Carmo, para a Selecção de juniores que, em Itália, disputou o Torneio Internacional da FIFA. «Nessa altura exibia-se em Portugal o filme Fonte dos Amores e a canção Três Moedas na Fonte era cantada por toda a gente. Quando me apanhei em Roma não resisti à tentação de deitar também três moedas na fonte a que a lenda se referia, numa esperança compreensível de poder vir a ser feliz. E parece que a tradição me favoreceu...»
No inicio da época de 1954/55, ascendeu ao primeiro time do Barreirense, como avançado-centro. Estreou-se contra o Torreense, na festa de Eduardo Reis. Levava o coração ao rubro, todos os sentimentos ao largo. «Quando entrei em campo e ouvi os aplausos só pensei no meu pai, que o Destino roubara à vida, havia seis anos, tão novo ainda, com tanto ainda para dar ao futebol. Se estivesse vivo, naquele dia, sentir-se-ia o homem mais feliz do Mundo. Joguei esse encontro como talvez nunca tenha jogado na minha carreira. Não que a exibição tivesse sido sensacional. Mas tudo me parecia fácil, porque eu sabia de antemão que a assistência, pelos menos os que recordavam o meu pai. diriam que o filho do Alexandre de Almeida honrava bem o nome do pai...»
Até a Fiorentina entrou na corrida...
Menos de um mês volvido, o Barreirense recebeu o Sporting no Campo do Rossio. Era o primeiro jogo contra um grande e contra Carlos Gomes que na véspera dissera que nem um só golo lhe marcariam. Era o tempo das quentes rivalidades os dois clubes, com animosidades e políticas à mistura, que o Sporting era o clube dirigido por ilustres salazaristas, o Barreirense era o clube do povo obrigado a sofrer com mordaça a tirania de um regime cada vez mais de torcionários. Na noite anterior, José Augusto mal conseguiu dormir só de pensar em. quem estaria na baliza adversária. Apesar disso, marcou três golos. Só dois contaram, porque o árbitro anulou, escandalosamente. um deles, permitindo que o Sporting ganhasse por 3-2. Deslumbrados ficaram os sportinguistas, com aquele avançado-centro felino, capaz de fazer maravilhas com os dois pés, notável no jogo aéreo. Nesse dia, no Barreiro nasceu uma nova estrela. Que ofuscou Faia. O Sporting tentou-o, o F.C. Porto e o Benfica também. Mas os dirigentes do Barreirense sabiam bem que era ouro que tinham no Campo do Rossio. E, para afastar concorrência, colocaram a parada bem alta. Um dirigente do clube confidenciaria, por esse tempo: «Pedimos mil contos pela carta de desobrigação de José Augusto, achamos que é muito dinheiro, mas pedimos isso exactamente para ninguém lhe pegar. » Até os italianos da Fiorentina entraram na jogada, impressionados com o talento de José Augusto no Torneio de Juniores da FIFA...
Assinarem branco por causa da doença do pai...
Mas José Augusto tinha uma divida de gratidão a pagar. Nunca se esqueceu dela. Na noite de 25 de Agosto de 1959, o Benfica ganhava a corrida ao F. C. Porto.
Ao sprint. O Barreirense, que caíra na II Divisão, já não exigiu mil contos, com 350 contos se contentou. José Augusto recebeu 130 contos pela assinatura do contrato com o Benfica e um ordenado mensal de quatro contos, três vezes mais que aquilo que recebia no Barreiro. Mas não foi o dinheiro que o tentou. Foi o coração. «O meu pai jogava futebol no Barreirense, mas, a certa altura, ficou doente dos pulmões. Francisco Ferreira era seu compadre e levou o Benfica duas vezes ao Barreiro para angariar fundos para nos ajudar. Só admitia transferir-me para o Sporting ou para o F. C. Porto ou para qualquer outro clube se o Benfica me dissesse que não estava interessado. Por isso, esse primeiro contrato com o Benfica foi assinado em... branco. Só depois de tudo tratadinho é que soube que ficaria a ganhar quatro contos por mês e no ano seguinte teria direito a mais cem contos de luvas...»
O dia em que foi preso com Coluna...
Em Fevereiro de 1965 o Benfica arrancou para a final da Taça dos Campeões fulgurantemente, batendo o Real Madrid por... 5-1. Seria a quarta final europeia de José Augusto. Outra faria. Por essa façanha, os jogadores benfiquistas receberam, cada um, 50 contos. 80 receberiam pela derrota-vitória-moral contra o Inter, em San Siro. Pelo seu primeiro título europeu arrecadou José Augusto 30 contos e pelo segundo 40. O terceiro lugar no Mundial de 1966 renderia, obviamente, multo mais.. 200 contos de réis. Não havia, então, quem ousasse questionar o génio de José Augusto, mas muitos o consideravam um jogador... medroso. 25 anos depois, em entrevista a Joaquim Rita, refutou essa imagem: «Essa é a ideia que se faz sempre de um jogador estilista, que faz da técnica a sua principal arma. Eu era assim - um jogador rápido, versátil, e, para além disso, com grande inteligência de jogo.»
Ganhou fama de jogador correcto, apenas uma vez expulso, ainda nos juniores do Barreirense. Mas, por vezes, a fama de pouco serve. Por isso, uma vez, em Braga, logo após a retumbante vitória sobre o Real, José Augusto sentiu-se em bolondas, ameaçado de passar a noite entre... grades! Após um remate fulgurante, saído da cabeça de Coluna, a bola bateu na face interna da barra da baliza bracarense, o árbitro não considerou golo. Os jogadores do Benfica embargaram-lhe o caminho do árbitro, protestaram veementemente, a Policia entrou em campo de bastões em riste. Os ânimos serenaram ante a ameaça dos cassetetes. Mas mal o árbitro deu o encontro por terminado, um contingente de policias apoderou-se de Coluna e de José Augusto, impedindo-os, se quer, de seguirem para o balneário para se desequiparem. Estavam sob ordem de prisão, por desrespeito ao árbitro e, disseram eles, tinham de ir imediatamente para a esquadra. Depois de demoradas conversações foram libertados e, quase uma hora depois, puderam ir ao duche. E a Polícia, que antes os quisera prender, até se predispôs a abrir caminho pela estrada congestionada, para que o Benfica pudesse chegar a horas de apanhar em Gaia o comboio de regresso a Lisboa...
Guarda-redes...
José Augusto estreou-se no Benfica a 1 de Setembro de 1959, contra o Oviedo de... Carlos Gomes. Duas semanas depois, frente ao Braga, marcou o seu primeiro golo de águia ao peito. De calcanhar. Mas o avançado-centro estava condenado. O ataque do Benfica era, então, composto pelo Francisco Palmeiro, Santana, Águas, Coluna e Cavém. Num jogo da Taça de Honra, Palmeiro lesionou-se e Guttmann colocou-o a extremo-direito. Foi nessa posição que alcançou o sétimo céu. Apesar da sua polivalência. Por exemplo, em 1966, na famosa final da Taça dos Campeões, com o Inter, esteve para jogar a... guarda-redes. «Foi o Germano para o baliza, porque ele estava com uma rotura muscular e não poderíamos ficar sem o guarda-redes e com mais um jogador de campo incapacitado. Naquele tempo, consideravam-me o... guarda-redes suplente.» Não era de admirar. Fora como guarda-redes que José Augusto se lançara no futebol, onde a sua fama se espalhou pelo Mundo inteiro. Esteve com um pé no Real Madrid, mas Béla Guttmann travou-o. «Era muito amigo de Osterreicher, que também era austro-húngaro, e que desempenhava as funções de secretário técnico do clube espanhol. Guttmann disse-me para ficar mais uma época no Benfica, que depois se veria, mas nunca mais... Nunca mais saí do Benfica. E daquela fabulosa linha de ataque fui o único que não conheceu, depois, outra camisola, a não ser a do Benfica...»
Duas coroas de glória
José Augusto abandonou o futebol em finais dos anos 60 e depressa se dedicou a treinador. Chegou a ser, esporadicamente, técnico do Benfica. Em 1972, pouco depois de ter arrumado os botas, obteve o terceiro lugar no Mundialito, disputado no Rio de Janeiro. Depois do Mundial de 1966 era, até então, o maior façanha do futebol português. Com uma nova geração de jogadores que José Augusto lançou assim na ribalta: José Henrique, Artur, Humberto Coelho, Messias, Adolfo. Toni, Fernando Peres, Jaime Graça, Artur Jorge, Dinis. Dos Magriços. apenas Jaime Graça e Eusébio se mantinham na liça. Por cá, tomou-se o feito como... vitória moral. É que, no final, contra o Brasil, o golo que valera o título, apontado por Jairzinho, no último minuto foi súcio. José Henrique denunciaria: «Foi com o mão que Jairzinho fez o golo. Perder assim custa muito. Com um golo no último minuto e com a mão.
Veiga Simão, ministro do Educação, telefonou, propositadamente. para o hotel, para José Augusto, vincando o orgulho de ser português. que sentira por Portugal ter feito o que fizera no Minicopa. E prometeu comenda para todos. Comendador já era José Augusto, pelas façanhas de Berna, Amesterdão e Inglaterra. 100 contos recebeu do prémio. Pouco mais do que coube o cada um dos jogadores: 94. E, feliz, não deixou de sublinhar a ideia que Eusébio sintetizou assim: «Até o presidente do Brasil nos felicitou. Mostrámos futebol na terra do futebol. O Brasil chegou o parecer apavorado, surpreendido com o nosso futebol. Estamos todos felizes... como se tivéssemos ganho.»
Outro brilharete assinaria José Augusto, fazendo parte do quadriunvirato que em 1984, em França, obteve o terceiro lugar no Europeu. Por esse tempo, era já presidente de Os Franceses, centenária associação popular do Barreiro, antes vocacionada para bailaricos e que ele transformou em clube e... escola. Deu também um salto pela política:
chegou o vereador na Câmara do Barreiro, pelo PSD. No FPF organizou toda o estrutura do futebol juvenil, chamando para seu técnico... Carlos Queirós. As suas últimas tentativas como treinador de equipa, no Farense e no Penafiel, não foram marcados pelo sucesso. Por isso se pôs em sabatina. Não sem deixar entender que o futebol está transformado numa selva! Vai vivendo dos rendimentos. Apesar de não se considerar homem tornado rico pelo futebol...
In "100 figuras do futebol português - Abola - 1996"
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