Fernando Albino de Sousa Chalana
Posição: Médio Esquerdo
Data Nascimento: 10/02/59
Naturalidade: Barreiro
Altura/Peso: 165 cm / 62 Kg
Nacionalidade: Portuguesa
ano | clube | j | g | a | v | va |
73/74 |
Barreirense (juv) |
- |
- |
- |
- |
- |
74/75 |
Barreirense I |
6 |
- |
- |
- |
- |
75/76 |
Benfica I |
2 |
0 |
- |
- |
- |
76/77 |
Benfica I |
28 |
10 |
- |
- |
- |
77/78 |
Benfica I |
28 |
8 |
- |
- |
- |
78/79 |
Benfica I |
30 |
3 |
- |
- |
- |
79/80 |
Benfica I |
8 |
0 |
- |
- |
- |
80/81 |
Benfica I |
24 |
1 |
- |
- |
- |
81/82 |
Benfica I |
21 |
0 |
1 |
- |
- |
82/83 |
Benfica I |
29 |
4 |
- |
- |
- |
83/84 |
Benfica I |
23 |
7 |
- |
- |
- |
84/85 |
Bordéus I (França) |
10 |
1 |
- |
- |
- |
85/86 |
Bordéus I (França) |
2 |
0 |
- |
- |
- |
86/87 |
Bordéus I (França) |
0 |
0 |
- |
- |
- |
87/88 |
Benfica I |
10 |
2 |
0 |
0 |
0 |
88/89 |
Benfica I |
14 |
2 |
1 |
0 |
0 |
89/90 |
Benfica I |
8 |
0 |
0 |
0 |
0 |
90/91 |
Belenenses I |
13 |
0 |
1 |
0 |
0 |
91/92 |
E. Amadora I |
9 |
1 |
5 |
0 |
0 |
Palmarés
3º lugar no «Europeu» de França-84
Campeão nacional da I Divisão (1975/76)
Campeão nacional da I Divisão (1976/77)
Vencedor da Supertaça (1979/80)
Campeão nacional da I Divisão (198081)
Vencedor da Taça de Portugal (1980/81)
Campeão nacional da I Divisão (1982/83)
Campeão nacional da I Divisão (1983/84)
Campeão nacional da I Divisão (1988/89)
Vencedor da Supertaça (1988/89)
27 internacionalizações pela Selecção A, 2 golos. Estreou-se em 17-11-76, na Luz contra a Dinamarca (1-0) e despediu-se, em 12-10-88, em Gotemburgo, contra a Suécia (0-0)
Cresceu como nasceu, numa casa pobre do Barreiro, sem brinquedos sofisticados. Nunca se importou muito com isso, bastava-lhe uma bola, mesmo pequenina, mesmo de borracha, para se sentir a criança mais feliz do Mundo. Aos seis anos, nos jogos pelos campos vadios do Lavradio, ao despique com garotada de muitos mais anos, o craque era ele, enfezadito, com pernas de alicate. Nesse tempo sonhava ser como aqueles «jogadores a sério» da CUF, que via, domingo sim, domingo não, embevecido, no peão do Alfredo da Silva, pela mão do padrinho, que foi quem lhe inoculou o «vício da bola». Inscreveu-se, no futebol de salão, nos Jogos Juvenis do Barreiro, pela equipa de Serpa Pinto. Logo na primeira edição, ganhou o seu primeiro troféu, a Taça Joanina. que premiava o melhor marcador da competição. Sem surpresa, o Unidos e o Sporting do Lavradio lançaram-lhe sugestivos cantos de sereia. Resistiu porque, de súbito, descobriu outra paixão, o atletismo. Ao serviço da CUF, sagrou-se campeão de Lisboa de iniciados, com pouco mais de um mês de treino, sendo, depois, quinto classificado no Campeonato Nacional. Há paixões efémeras, fugazes. Foi o que aconteceu. Fartou-se de correr quilómetros e quilómetros quase todos os dias, sentiu que a bola era uma parte de si, como se fora complemento do seu coração, quis voltar ao futebol, tinha 14 anos apresentou-se no campo da CUF para testes. E, pasme-se, foi reprovado!!! Ficaria a saber, depois, que muitos dos que ficavam, ficavam porque jogavam com cunhas de ilustres senhores da companhia e que, por isso, mesmo sem grande jeito, teriam de ficar! Foi, então, ao Barreirense. Ficou. Naturalmente. Mas não por muito tempo...
Como o Barreirense arrecadou 750 contos
Pelo Barreirense fez Fernando Chalana seis jogos e, sem sequer saber, era jogador do Benfica. Porque nem sempre há dinheiro para pagar a honra beliscada, Joaquim, o pai de Fernando, não calou os lamentos: «Foi deplorável o que fizeram no Barreirense. Negociaram o meu filho sem que eu ou a mãe soubéssemos. Um dia, apareceu cá em casa um senhor que vinha buscar o Fernando para o Benfica, pois já se tinha efectuado a transferência. La ganhar quatro contos por mês! Mais tarde vim a saber que os directores do Barreirense haviam recebido cerca de 750 contos e então quis saber como era. Perante a nossa mágoa, o Benfica deu-nos 25 contos. Foi, então, que os senhores do Barreirense quiseram dar-nos 20 contos, depois de abusivamente receberem 750! Como homem honesto e trabalhador, não ia vender-me por 20 contos e não aceitei coisa alguma. Não precisava de esmolas. Ainda tinha braços para trabalhar e para que nada faltasse ao meu filho. »
Pouco antes, entrara o Sporting na corrida. Chalana só não foi parar a Alvalade porque os seus dirigentes acharam que era uma exorbitância pagar 800 contos pela carta de desobrigação de um juvenil. Isso não achara o Benfica, porque, depois de um tal sr. Edgar passar a vida a dizer, na Luz, que fossem buscar o «miúdo do Barreiro», Pavic decidiu ir vê-lo com os seus próprios olhos, a um desafio no Campo do Oriental, já que Juca o arrancara aos juvenis, pondo-o, sem pestanejar, a jogar nos seniores do Barreirense. O treinador do Benfica ficou encantado e avisou que não perdessem tempo no negócio. Seria, contudo, John Mortimore a lançar Fernando Chalana, na primeira categoria do Benfica, a 6 de Março de 1976, frente ao Farense. Foi euforicamente recebido pela assistência, que vaiara Nené e Jordão, apesar de terem sido eles a marcar os golos da vitória sobre os algarvios. Tinha 17 anos e 25 dias. Nunca ninguém jogara na I Divisão com tão tenra idade. Vinte anos depois, o sportinguista Caneira, no dia em que festejava o seu 17º aniversário, estreava-se com a camisola do Sporting.
Os ossos do oficio e novo ataque do Sporting...
Com 17 anos, para além de campeão nacional de juniores e de seniores, jogou pelas Selecções de juniores, esperanças e AA, convocado por Pedroto. Na época seguinte, apesar de apoquentado por lesões mais ou menos leves, Chalana era já titular indiscutível, o menino dos olhos de todos os benfiquistas.
O seu estilo de futebol fazia do perigo a sua profissão. Para lhe entravarem o génio, os defesas usavam o músculo. Ou pior do que isso. Martirizavam-no. Em 1978, a primeira lesão grave, na Póvoa, após carga do varzinista Brandão: rotura de ligamentos e fractura do perónio da perna direita, oito meses de estaleiro. Menos de dois anos depois, a perna direita outra vez fracturada, num treino no Jamor. Em Abril de 1980, andava em tratamento no Centro de Reabilitação de Alcoitão. Mas não eram só na perna, as dores. O Benfica fizera-lhe proposta para renovação do contrato ao nível do que fariam o Marítimo ou Portimonense. O Sporting oferecia o dobro. Por isso, Chalana afirmou que aquela seria. provavelmente, a sua última época ao serviço do Benfica. Não foi. Fernando Martins conseguiu segurá-lo.
«Mina de ouro» que Valentim quase conquistou...
Mas, em 1984, antes da partida para o Europeu, Chalana foi dado como certo no Boavista, tendo, inclusivamente, recebido cheque chorudo, que seria devolvido pelo Benfica, o qual, mesmo no limite, conseguiu que Fernando desse o dito por não dito. Queixara-se de que Fernando Martins não lhe dava mais de 350 contos por mês. arrepiou caminho quando o presidente do Benfica lhe prometeu ordenado de mil contos por mês!
Em França, o fulgor que jamais se apagará da memória de todos os portugueses e não só. Chalana caiu no goto dos jornalistas franceses, pelo seu aspecto bizarro, pelo seu traje, pela marcação cerrada que lhe fazia Anabela, mas, sobretudo, por ter jogado como jogou durante todo o campeonato. Um deles comparou-o a Cyrano de Beregrac, por causa do nariz e porque jogava futebol como se esgrimisse. Outro evocou Charlot, falando da sua «figura chaplinesca».
No regresso de França, Fernando Martins, que quando desviara Chalana do Bessa colocara no contrato cláusula que fixava em 24 mil contos a indemnização devida ao Benfica, receberia, pela sua transferência para Bordéus, 220 mil contos, podendo, assim, fechar o Terceiro Anel. Para o extremo-gazua, um pouco menos, 100 mil contos pela assinatura, 5000 de ordenado mensal. Nunca algum jogador português ganhara tanto dinheiro...
A bruxa e a queda do anjo
Infernizados foram os tempos em que viveu em Bordéus, de 1984 a 1986. Roturas umas atrás de outras e até uma lesão rara em futebolistas no nadegueiro. Desesperado, tentou tudo para debelar os mazelas que lhe impediam o golpe de génio: tratamentos a laser, acupunctura, visitas a bruxas. Em 1987, quando os bordelenses já se diziam fartos de si e, sobretudo, de Anabela, ainda admitiu naturalizar-se... francês. dizendo: «Não posso prejudicar mais a minha carreira e não é por isso que deixo de ser mais português!!!»
Contudo, em Julho desse ano, regressou ao Benfica, asseverando que, com isso, deixara de «ganhar mais de 100 mil contos» e prometendo: «Aos que dizem que estou todo roto responderei a... Jogar. Não responderia, haveria de denunciar, não muito depois: «Pior do que as lesões que sofri, foi ter encontrado Eriksson no Benfica, ele sim é que me deu a machadada final. O sueco talvez tenha sido a maior lesão da minha vida!»
Do Benfica saltou para o Belenenses, em 1990. Era já uma sombra de si próprio. Por isso, em lusco-fusco se manteve. Diria que por culpa de... «jogadas de bastidores para o tramarem». Tentou a ressurreição no Estrela, mas debalde, pelo que anunciou o abandono, desconcertando com uma inesperada confidência. «Admiro Pinto da Costa e a ambição do F. C. Porto e, infelizmente, o Benfica está moribundo!!!»
Não muito depois, divorciava-se de Anabela. A fortuna que ganhara foi-se desfazendo e, em 1994, com a conta bancária congelada não tinha se quer dinheiro para pagar a água, a luz e o telefone da mansão que construíra na Linha do Estoril, quando eram de glórias os seus dias. O Benfica acabaria por dar-lhe a mão num gesto bonito, fazendo dele treinador das camadas jovens. Talvez assim tenha evitado que se repetisse e reeditasse o drama de Vítor Baptista.
In "100 figuras do futebol português - Abola - 1996"
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